______________________________________

“Highly sastisfying!”

– J. Hoberman, Village Voice, New-York
__________________________

“Refreshingly original!”

– Bruce Kirkland, Toronto Sun 
__________________________

NÔ : A COMEDY OF MANNERS BY ROBERT LEPAGE

Canada • 1998 • 85 mins • Color and Black & White • In French with English subtitles.


Best Canadian Film Award, 1998 Toronto International Film Festival


Avant-garde theater director Robert Lepage blends bedroom farce, razor-sharp comedy and political satire in a film set during Quebec’s 1970 Separatist Crisis.The film follows the relationship of a bumbling revolutionary in Quebec and his high-strung actress girlfriend visiting Osaka, Japan to perform in a French play.

The smart French-Canadian separatist comedy Nô is almost mocking in its unironic preoccupation with politics. The very first scene will send the average American viewer scrambling through his or her knowledge of the Quebec Separatist Crisis. The year is 1970, and a Quebec TV announcer is informing us that the activities of the Quebec Liberation Front (FLQ) have caused Prime Minister Trudeau to put the province under martial law. Quick, how did that conflict affect the States?

Don’t worry. The beauty of Nô is that if you want to delve deep into its political message, you can. If not, simply take the film as a razor-sharp comedy. Nô’s action is split between the bumbling attempts at activism by a minor-league revolutionary in Quebec, Michel (Alexis Martin), seen in black-and-white, and the adventures of his high-strung girlfriend, Sophie (Anne-Marie Cadieux, a vision of youthful ‘70s hip), which are shot in color. She’s a member of a Canadian theatrical troupe that is in Osaka, Japan, staging a French play to commemorate the 25th anniversary of the island nation’s participation in WWII (whew!).

Sophie has just discovered that she’s pregnant; panicked, she turns to her loyal Japanese friend, Hanako (Marie Brassard), who was blinded by the atomic bomb blast as a child, for help. Hanako is the film’s most insightful, centered character, and her blindness provides a useful metaphor, since behind the laughs and the dissection of the separatists’ political maneuvering, Nô explores our basic perceptions: Who do we see ourselves as, what do we align ourselves with and why?

Take, for instance, Sophie’s verbal brawl with a pugnacious middle-aged diplomat’s wife (Marie Gignac) in an Osaka sushi house. The scene deftly deconstructs both the nationalist tug-of-war back home and each character’s gender and class motivations in one brilliant, gleefully spiteful exchange. Nô contains several such mini-masterpieces, which is enough to make one bemoan the scarcity of sophisticated, unabashedly political films like this.

Directed by Robert Lepage; written by Mr. Lepage and André Morency, inspired by Mr. Lepage’s play “Seven Streams of the River Ota”; director of photography, Pierre Mignot; edited by Aube Foglia; produced by Bruno Jobin. Running time: 83 minutes. With : Anne-Marie Cadieux (Sophie), Marie Brassard (Hanako), Alexis Martin (Michel), Marie Gignac (Patricia) and Richard Frechette (Walter).


- Nicole Keeter, Time Out, New-York - April 22, 1999

                                                                                                                                           

Starring Anne-Marie Cadieux, Marie Brassard. Written by Robert Lepage and André Morency. Directed by Robert Lepage.

After the annoying misstep of Le Polygraphe, iconoclastic auteur Robert Lepage is finally back in stride with his latest, Nô. It's a movie whose offhand complexity fondly recalls that of his debut feature, Le Confessional -- even though, like Le Polygraphe, Nô was inspired in part by one of Lepage's own plays, the legendarily lengthy epic Seven Streams of the River Ota.

But while Seven Streams' labyrinthine plot charts the literal and metaphorical fallout of Hiroshima's destruction through several generations of internationally linked characters, Nô concentrates on a select section of that number centered around Sophie (Ann-Marie Cadieux), a Montreal actress representing French-Canadian culture -- by performing in a Feydeau farce -- during the 1970 World's Fair in Osaka, Japan.

Back at home, meanwhile, Sophie's separatist-sympathizer boyfriend Michel has become caught up in the resistance to Trudeau's War Measures Act, trying to fight off his chronic writer's block long enough to write a suitable media release, as his equally inept friends use his kitchen to make bombs.

After Sophie realizes she's pregnant by Michel, her life degenerates into a series of alcohol-laden sexual hijinks that seem to mimic the bedroom-jumping farce she's performing in. At the same time, Nô moves into similarly high gear, linking its many subplots with a multi-layered web of symbolic meaning that elegantly juxtaposes synonymous imagery -- Japanese "Noh" Theatre vs. the "No" of Quebecois separation, the flash of a passport photo booth vs. the silent roar of the mushroom cloud, etc.

Granted, it's all supremely artificial, and hardly as smooth a contrivance as Le Confessional, which wove elegantly back and forth through time and space without ever missing a dramatic beat. But damn, it's just so nice to see someone trying to say several things at once -- and obviously proceeding from the assumption (however accurate it may be) that you, the audience member, are smart enough to catch up without being spoon-fed explanations for people's behavior. So enjoy that unfamiliar sensation -- while it lasts.

- Gemma Files, Eye Weekly, Toronto - November 19, 1998


____________________________________________




Baseado em sua própria peça de sucesso, o diretor Robert Lepage nos apresenta um aperitivo em forma de um maravilhoso filme

Em 1998, o diretor teatral canadense Robert Lepage levou para o cinema uma de suas peças mais famosas, “Os Sete Afluentes do Rio Ota”, criação coletiva de seis horas de duração – no Brasil, a versão ficou a cargo de Monique Gardenberg, com Maria Luisa Mendonça, Bete Goulart e Caco Ciocler no elenco. Batizada de Nô, a versão cinematográfica também dirigida por Lepage narra apenas uma das sete estórias da peça, “The words”, a terceira pela ordem, de forma que tem apenas um quarto da duração total, uma hora e meia, cômoda para as platéias de cinema.

É pena que o diretor não dirigiu as demais estórias e filmado tudo. Não só a peça é um marco do teatro mundial como o pouco adaptado para o cinema deu origem a um filme engraçado, inteligente, cosmopolita e multicultural na medida certa. (Mike Nichols foi mais feliz em adaptar a igualmente gigantesca “Angels in America” para a televisão, reduzindo as sete horas originais para cerca de cinco, exibida em duas partes na HBO e posteriormente lançada em DVD com enorme sucesso.)

“Os Sete Afluentes do Rio Ota” é um prodígio. Passada em cinco países (Canadá, EUA, Holanda, Japão e Polônia), em três épocas diferentes (anos 40, em plena II Guerra Mundial, anos 70 e final da década de 90), é falada em seis línguas (inglês, francês, polonês, alemão, holandês e japonês), com mais de 20 personagens. Confuso? Nem um pouco. Prolixa? Pelo contrário, é o cúmulo da concisão. Dinâmica, emocionante e com muito humor, “Les Sept Branches de la Rivière Ota” é universal, uma esfuziante celebração das diferenças culturais como forma de aproximação e compreensão dos homens.

Uma atriz canadense em início de carreira (a hilariante Anne-Marie Cadieux) está em Osaka apresentando uma comédia do francês Feydeau (curiosamente em cartaz em São Paulo, com Cacá Rosset). Fez amizade com a tradutora da peça para o japonês – ela é cega porque, quando criança, foi atingida pela radiação da bomba em Hiroshima. Descobre que está grávida, mas não sabe se o filho é do namorado canadense, que está em Montreal conspirando contra os ingleses para a libertação do Canadá. Ela é assediada por dois homens, o embaixador canadense no Japão e por um dos atores da peça – um dos prováveis pais de seu filho.

Quase toda a ação transcorre num único dia, 16 de outubro de 1970, quando o primeiro ministro canadense decreta a prisão dos conspiradores – essa parte foi reduzida na montagem brasileira; o corte explica-se pelo excesso de referências à história do Québec, a parte francesa do Canadá que liderou a independência da Inglaterra. No filme, os detalhes não foram poupados e pode se tornar confuso para quem nada sabe sobre a geografia e história canadense.

Sophie, a atriz em apuros, precisa dar atenção ao namorado guerrilheiro do outro lado do mundo, fugir dos homens em seu encalço e agüentar a terrível esposa do embaixador, uma falante e pernóstica francesa que perde o trem para Tóquio e acaba descobrindo a traição do marido (no Brasil, foi vivida de maneira esplêndida por Bete Gourlart, atriz que parece não ter tido na televisão a sorte que tem no teatro).

Enquanto isso, a tradutora cega descobre o amor com um canadense de Vancouver e prepara-se para deixar o Japão e viver com ele, que não tem os preconceitos dos japoneses em relação às vítimas da guerra (quem foi atingido pela radiação, a “chuva negra”, tinha enormes possibilidades de desenvolver câncer e gerar filhos defeituosos, de forma que nunca se casavam).

Enfim, apenas um aperitivo da monumental obra que é “Os Sete Afluentes”, um painel que conta, na primeira parte, a história de Luke, um fotógrafo americano que fotografou os horrores da bomba no Japão, e sua família por 50 anos. Na segunda parte, uma amiga da família relembra e arremata o ciclo anterior ao relembrar de como fugiu do campo de concentração nazista de Terezin graças à ópera “Madame Butterfly”.

Não se trata, no entanto, de um épico teatral, pois a estrutura e narrativas são bem diversas. Quem viu a peça vai se deliciar. Quem não viu poderá conferir a obra de um cineasta originalíssimo, um dos grandes artistas contemporâneos, em sua, talvez, obra-prima definitiva (ainda que só uma parte dela).

- Demetrius Caesar, CINE PLAYERS, Brasil - 22/11/2006